Requiem For a Pink Moon**

 

O cantor e alaudista Joel Federiksen apresenta em 'Requiem For A Pink Moon' uma homenagem à Nick Drake e abre espaços de diálogo com a música renascentista inglesa  

Joel Federiksen estava numa sala de cinema quando, antes do filme, um dos anúncios apresentou um automóvel ao som de Pink Moon de Nick Drake. Cantor (um baixo, mais concretamente) e alaudista, o músico alemão tinha descoberto a música do cantautor britânico em 1982. Admirara então as canções, "a voz planante e os arranjos intrincados para guitarra", como recorda no booklet do seu novo disco. Mas a sua carreira apontou à música do renascimento e há muito que tinha deixado as canções de Nick Drake de lado... Mas naquela noite, ao escutá-lo numa sala de cinema, a antiga paixão renasceu e a ideia de trabalhar aquelas canções ganhou novo fôlego. O álbum Requiem For a Pink Moon, agora editado, diz-nos que soube levar o desejo a bom porto.

Nick Drake teve uma carreira breve e discreta no seu tempo, editando apenas três álbuns entre 1969 e 1972, morrendo em 1974. A sua música deve muito a heranças da folk, mas a sua forma peculiar de tocar guitarra vincou personalidade à composição, as suas trovas melancólicas sobre solidão e incompreensão definindo um corpo poético coeso e consequente. Mas quis o tempo que os seus discos tenham encontrado outra atenção, de um culto que se começou a esboçar nos anos 80 nascendo um estatuto de veneração que dele hoje faz um dos cantautores mais aclamados do seu tempo.

Como tantos outros, Joel Frederiksen descobrira a música de Nick Drake já depois da sua morte. E diz que é uma "arte cheia de melancolia, sentimento e conceito que o une assim aos cantautores da Inglaterra dos tempos de Isabel I", explica. Depois daquela noite no cinema, decidiu procurar pontes de possível comunicação entre os espaços da música antiga em que estava a fazer carreira e esta admiração antiga por Nick Drake. Começou por idealizar um requiem, que integrasse canções suas. Encontrou espaço de trabalho num mosteiro na Umbria (em Itália). E agendou um primeiro concerto. Mas quando surgiram as primeiras notícias do trabalho em curso estas falavam (fruto de um equívoco do próprio gabinete de comunicação) de um programa que cruzava as canções de Nick Drake com outras, de compositores ingleses dos tempos de Isabel I... O engano contudo despertou uma outra ideia. E acabou por definir o caminho (precisamente o desse diálogo então sugerido) que agora escutamos neste disco.

Não abandonou totalmente a ideia inicial do requiem. Procurando uma forma de o integrar no conceito, que tinha o álbum de 1972 como principal fonte de inspiração (e de canções para o alinhamento), encontrou a solução num arranjo dos elementos convocados de outros tempos "que combina elementos do estilo folk da guitarra de Nick Drake com os blues e outros estilos a que ele certamente responderia em finais dos anos 60 e início dos anos 70", explica o músico no texto com que apresenta o disco. O resultado final mostra, em Requiem For A Pink Moon, onde colabora ainda o Ensemble Phoenix Munich, canções de várias etapas da obra de Nick Drake (algumas apenas editadas postumamente) com a missa de requiem gregoriana e composições de John Dowland (1562-1626), Michael Cavendish (1565-1628) ou Thomas Campion (1567-1619). Cruzam-se linguagens e heranças. Se Nick Drake fosse um compositor renascentista, soaria assim? Talvez não, que outras genéticas e experiências se cruzam nesta abordagem. Mas o poder da fantasia pode ajudar-nos a sonhar.


**Texto extraído do site português Diário de Notícias  


NICK DRAKE BRASIL 

"Don't you have a word to show what may be done"

Para um dia de chuva, silêncio, calma e ressaca nas praias do Rio de Janeiro:

 

Way To Blue
Caminho Para A Tristeza

Don't you have a word to show what may be done
Você não tem uma palavra para mostrar o que pode ser feito?
Have you never heard a way to find the sun
Você nunca ouviu falar de um caminho para encontrar o sol?
Tell me all that you may know
Diga-me tudo o que você pode saber
Show me what you have to show
Mostre-me o que você tem que mostrar
Won't you come and say
Você não virá e falará
If you know the way to blue?
Se você sabe o caminho para a tristeza?

Have you seen the land living by the breeze
Você viu a terra vivendo a brisa?
Can you understand a light among the trees
Você pode entender uma luz entre as árvores?
Tell me all that you may know
Diga-me tudo o que você deve saber
Show me what you have to show
Mostre-me o que você tem que mostrar
Tell us all today
Diga-nos tudo hoje
If you know the way to blue?
Se você sabe o caminho para a tristeza

Look through time and find your rhyme
Olhe através do tempo e encontre sua rima
Tell us what you find
Diga-nos o que encontrou
We will wait at your gate
Nós esperaremos no seu portão
Hoping like the blind.
Esperando como cegos

Can you now recall all that you have known?
Agora você pode relembrar de tudo que você sabe?
Will you never fall
Você nunca cairá
When the light has flown?
quando a luz tiver voado?
Tell me all that you may know
Diga-me tudo o que você deve saber
Show me what you have to show
Mostre-me o que você tem que mostrar
Won't you come and say
Você não vira e falará
If you know the way to blue?
se você sabe o caminho para a tristeza?
 
 
 
 
Nick Drake Brasil

Foto clássica





Está tudo rápido demais
Todo mundo caminhando rápido demais
O mundo se move acelerado e não é possível acompanhar
 
Eu quero participar desse mundo
Quero ir em outro ritmo
Não conheço os acordes
São notas densas
Vejo calma e leveza

Poderia seguir para sempre essa melodia
Uma trilha sonora para a vida 
Outra para a eternidade

Eu, vou com calma,
Já estamos em movimento

"Hey slow Jane, let me prove
Slow, slow Jane, we're on the move"  de Hazey Jane I



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